domingo, 3 de abril de 2011

cenaaberta.com

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Bolsonaro: o “tio mala” a legitimidade do ódio e os novos tempos

Posted: 02 Apr 2011 05:00 PM PDT

É, isso não estava nos planos, mas há momentos em que o inesperado acontece e as prioridades mudam. Acho que isso define bem o tema do Ponto de Vista dessa semana, em que o assunto não poderia deixar de ser sobre um nome que ficou bastante popular de repente. Um nome que dá margem a trocadilhos que talvez façam jus a sua reputação.

Estou falando de Jair Bolsonaro, deputado federal (PP-RJ), conhecido por seu jeitinho terno e gentil. Já que é hábito meu falar de tios e tias, talvez ele tenha um daqueles perfis que todo mundo consegue encontrar na própria família.

Eu o definiria como aquele tio mau humorado, reacionário, saudoso do que chama de bons tempos e defensor daquela tal de moral e bons costumes. Um daqueles parentes chatos, comparados ao "Tio Mala" da Grande Família, mas claro sendo que esse da ficção era um tipo divertido. Não é o caso de Bolsonaro.

Esta semana seu aparecimento não foi por seu folclórico mau humor ou pelas costumeiras palavras de ordem. É que o seu discurso foi feito em um lugar onde obteve mais repercussão do que seus palcos habituais. As câmeras do CQC geraram algo que aparentemente fugiu do controle, transformando-o em um símbolo. Não sei explicar um símbolo do que, mas certamente não foi de algo positivo.

Se você está  lendo esse texto, talvez tenha visto a confusão. Caso não, eis aqui uma oportunidade. Assista se for o caso, ignore se lhe convier. Caso não queira ver o vídeo reproduzo por escrito o estopim de todo o problema: uma pergunta feita pela cantora Preta Gil.

 - "Se o seu filho se apaixonasse por uma negra o que você  faria?"

- "Preta, não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco porque meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambiente como lamentavelmente é o teu"

 

O que assistimos foi uma manifestação muito clara de preconceito. Isso a grosso modo, pois esta discussão fica entre o racismo e a homofobia. Seja lá uma coisa ou outra, ou as duas juntas, o fato é que ele foi infeliz em suas colocações – para não dizer outra coisa.

Bolsonaro alegou não ter entendido a pergunta, e ter respondido no calor da emoção. Com isso fugiu das alegações de racismo, assumiu a homofobia que de qualquer modo sempre foi clara em qualquer um de seus discursos. Seja como for, a repercussão parece ter colocado o deputado em maus lençóis.

Consequências? Provavelmente sim. Fora a repercussão da tag #forabolsonaro ainda haverá alguns problemas judiciais: Preta Gil acionou advogados para mover processo contra o deputado por crime racial e homofobia; já a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ) entrou com representação na Câmara dos Deputados com a intenção de abrir um processo por quebra de decoro parlamentar.

Punição? Duvido muito. Certas discussões mudam frente a determinados problemas. Racismo é visto como repudiável em todas as instâncias, assim como a xenofobia que tomou espaço no Twitter quando uma de suas usuárias resolveu exercitar o seu ódio. Quanto a homofobia tem quem afirme seu exercício como liberdade de expressão e opinião legitimada por um regime democrático. Ao contrário da cor da pele, a atração pelo mesmo sexo é vista como uma questão de escolha com uma possível cura, ou um desvio de caráter.

Liberdade de expressão? Sim, mas poucos entendem isso amplamente. A maioria das pessoas só  se lembra disso quando deseja se expressar, ou quando concorda com o que o outro diz. Incitar o ódio passa longe de ser uma das premissas e alguns daqueles que ocupam o poder aparentemente não tem a mínima ideia disso.

Incitar o ódio contra Bolsonaro? Não mesmo. Embora suas ideias quanto a moral sejam repugnantes, ele não é o único a propaga-las. Estranho é que a todo momento ele alega sua "boa educação" para refutar o que vá contra suas ideologias, porém não contemplou o respeito ou o bom senso. Respeito certamente não inclui incitar o ódio: quantas vezes não ouvimos alguém repetindo o discurso do deputado por aí?

Como disse uma usuária do Twitter, a @bruxaOD: "Bolsonaro não deve ser cassado. suas idéias é que devem ser expostas ao ridículo até caducarem por falta de respaldo na população eleitora."

Sonho com o dia em que isso aconteça. Nesse dia, as falas dos nossos queridos tios reacionários poderão ser como peças de museu. Talvez pomposas em sua época, que contemplamos e ouvimos com atenção e até respeitamos por sua idade, porém não mais que isso, afinal o mundo seria outro. Novos tempos, novas atitudes.

Respeitar não significa aceitar. Significa não propagar discursos de ódio. Será que um dia seremos capazes de tamanha façanha?

Talvez. Quem sabe o que será amanhã?

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* Perfil: Emanuelle Najjar - Jornalista, formada pela FATEA em 2008, pesquisadora da área de telenovelas. Editora do Limão em Limonada (limaoemlimonada.com.br)

Bolsonaro e... como se essa história de preconceito fosse uma grande novidade

Posted: 02 Apr 2011 02:23 PM PDT

Moramos num país preconceituoso e nem é preciso pensar muito para enumerar diversas provas disso.

Quantas senhorinhas daquelas super religiosas você conhece que ficam alarmadas por qualquer coisinha afirmando ser pecado isso e aquilo mas não perdem uma chance de julgar qualquer pessoa que seja por sua cor ou "opção sexual"?

Isso não é pecado, com certeza. Só preconceito, né?

Pessoas que tem empregada doméstica em casa e acham que ela é tipo um bicho que precisa comer num cantinho escondido e com pratos velhos, daqueles que os patrões não chegam perto. Usar o banheiro deles? Nunca. Elevador? Nada, escadas mesmo.

Sabe aquele pessoal que recolhe seu lixo? Pedreiros? Então, todo mundo depende deles e tem papel importante na sociedade, mas são tratados como qualquer coisa, menos seres humanos.

Aliás, um jornalista, pessoa estudada, mostrou na TV o que pensa sobre garis.

Outros usam o Twitter para mostrar seu repúdio ao beijo gay, obesidade ou qualquer coisinha que desde crianças conhecemos pois mesmo na escola os "coleguinhas" se atacam, colocam rótulos.

Sim, acho nojento o que esse deputado fez, mas insisto afirmar que no país em que a TV teve que completar  50 anos pra vermos um negro apresentando um Jornal Nacional ou pra uma negra protagonizar uma novela das oito, sinto em dizer, mas é muito normal.

Repudio, contudo, não me surpreendo.

E foi o povo que o elegeu, não foi? Então, nada mais justo, ele é um reflexo dessa nossa sociedade hipócrita.

Deputado Jair Bolsonaro, Preta Gil e o preconceito

Posted: 02 Apr 2011 01:04 PM PDT


*Por Wander Veroni 

Muita gente ainda confunde opinião com incitação ao preconceito. Prova disso foram as manifestações em torno das declarações do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) para o CQC – programa humorístico e jornalístico, exibido nas noites de segunda-feira, na TV Band. Bolsonaro participou do quadro "O Povo quer Saber", uma espécie de povo-fala, onde pessoas nas ruas fazem uma pergunta previamente gravada ao entrevistado. Não assisti o CQC no dia. Vi o vídeo depois. Faz tempo que perdi o interesse pelo programa por acreditar que eles perderam o tom em muitos quadros.

Mas, essa semana o programa voltou às rodas de conversa e pautou toda a mídia brasileira. Ponto para a produção do programa que não está deixando a peteca cair. Chamado pelo apresentador Marcelo Tas de o "deputado mais polêmico do Brasil", Bolsonaro apresentou opiniões bastante controversas ao se mostrar a favor da ditadura militar, pois para ele naquela época não havia corrupção e uma valorização aos "bons costumes".

Não satisfeito, Bolsonaro atacou a presidenta Dilma, se mostrou ignorante e preconceituoso em relação aos homossexuais e aos negros, além de atacar a cantora Preta Gil, ao invés de responder a pergunta que a artista teria feito sobre a possibilidade de um de seus filhos se apaixonar por uma negra. "Não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Não corro esse risco porque os meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambientes como lamentavelmente é o teu." Assista abaixo as declarações do deputado Jair Bolsonaro para o CQC:



"Prefiro acreditar que o Bolsonaro não entendeu a pergunta da nossa querida Preta Gil", disse Tas após o encerramento do quadro. Eu já penso ao contrário: ele não só entendeu, como quis julgar a artista de forma pré-conceituosa. Bolsonaro foi algoz do próprio preconceito e ignorância. Mexeu em um vespeiro ao promover o preconceito em sua fala.

Não obstante, a repercussão após o programa foi gigantesca. No Twitter, a hashtag #forabolsonaro ficou nos primeiros lugares dos assuntos mais discutidos no país. Ainda no microblog, a cantora Preta Gil afirmou que irá processar o deputado por crime racial, homofobia, além de pedir reparação por danos morais. Já Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ) entrou com uma representação na Câmara dos deputados para abertura de processo contra Bolsonaro por quebra de decoro parlamentar.


No dia seguinte, vários leitores do Café com Notícias e amigos me escreveram pedindo que o blog abordasse esse assunto. Aos amigos da coluna Ponto de Vista sugeri a pauta e eles aprovaram. Considerei que opiniões diferentes sobre o caso seria o mais adequado para mostrar o quanto o tema é delicado, mas muito útil em ser levantado. Pela internet, vi algumas manifestações bastante contraditórias. Formadores de opinião a favor de Bolsonaro falando que ele foi mal interpretado. Será? Na outra ponta, pessoas mais lúcidas e outros formadores de opinião condenando o deputado por incitar o ódio – pelo fato dele ser um legislador e homem público, ao invés de promover a igualdade.

Como cidadão, me espanta ver que o povo carioca o eleja para a sua quinta legislatura consecutiva. Os votos à Bolsonaro e as pessoas que o apóiam mostram que o preconceito (velado ou não) ainda persiste na nossa sociedade. Será um retrocesso ou um reflexo social? Acredito que apenas quando as pessoas aprenderam a respeitar o próximo e as diferenças é que seremos capazes de distinguir com credibilidade o que é opinião com incitação ao ódio. Mas o primeiro passo já estamos dando para que isso aconteça: debatendo e colocando às cartas na mesa. Como diria a Regina Casé: Xô, preconceito!

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*Autor: Wander Veroni, 26 anos, é jornalista pós-graduado em Rádio e TV, ambas formações pelo Uni-BH. É autor do blog Café com Notícias (http://cafecomnoticias.blogspot.com). Twitter: @wanderveroni / @cafecnoticias.

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