domingo, 10 de abril de 2011

cenaaberta.com

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O massacre, o bullying e a parcela de culpa da sociedade

Posted: 09 Apr 2011 04:30 PM PDT

Já comentei por aqui que tenho evitado o noticiário. Isso se deu após a tragédia causada pela chuva no Rio de Janeiro.

O ano começou com o pé esquerdo e, portanto, decidi me dar um período de folga, estando alheio tanto quanto fosse possível. No caso do massacre em Realengo, não deu.

Tristeza, lágrimas e lamentações depois, é a hora de avaliar o estrago. Já está feito, é o que resta.

Tenho me questionado a todo o momento o que levou Wellington a cometer tanta crueldade e todos os meus pensamentos são direcionados ao hoje famoso bullying: só se fala nisso, e, aparentemente, é um dos maiores problemas de nossos tempos.

Não que não fosse no passado, mas não entendíamos os males que essas "brincadeirinhas" causavam já em época de escola.

E foi exatamente em uma escola que, segundo consta, os tormentos de Wellington começaram ao ser deixado num canto por seus "colegas", os mesmos que também tiravam onda com sua cara.

Os ex-parceiros de sala de aula, vizinhos, familiares, todos dizem que ele vivia isolado, recluso em seu mundinho.

E o que essas pessoas faziam para ele se enturmar? Aparentemente, nada.

O isolamento e o fato de ser excluído por todos podem ter contribuído para criar o monstro que vimos invadir a escola de Realengo nessa semana. Não justifica o que ele fez, mas explica.

A impressão é que tudo poderia ser diferente caso o mundo também fosse.

Por que essa mania de superioridade e, mais que isso, esse costume bizarro enraizado em nossa sociedade de querer inferiorizar quem não é tão bonito, sarado ou qualquer outro "defeito" que obviamente não deveria incomodar porque faz parte do outro e não de nós?

Acredito que deveríamos ampliar essa discussão, mudar costumes, por mais difícil que seja.

Já temos tanta violência... será que não poderíamos reavaliar nossos atos para assim quem sabe contribuirmos por um mundo melhor?

Eu realmente acho que é pedir demais, mas não custa tentar.

Melhor que lamentar e essa é nossa situação atual.

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Esse não era o nosso tema para essa semana, mas é o assunto que mais repercutiu em todas as mídias. E em nossos e-mails: nunca uma pauta foi tão intensamente debatida entre os três jornalistas responsáveis pela Ponto de Vista.

Massacre em Realengo: o bullying como peça do quebra-cabeças

Posted: 09 Apr 2011 02:54 PM PDT

Bom, acho que não preciso dizer que este assunto não era exatamente esperado para a o texto de hoje, não é? Ninguém esperava que o 7 de abril pudesse ser marcado por uma tragédia de tamanhas proporções. O massacre dentro de uma escola em Realengo trouxe mais do que sangue, mortes e traumas, mas também fez vir a tona uma discussão importante que não pode mais ser adiada: o bullying.

Não se sabe se essa teria sido a motivação de seus atos, ou apenas uma das peças do quebra-cabeças, mas o assunto merece destaque. De acordo com explicações fornecidas pela professora Maria Luísa Bustamante do Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) em entrevista ao O Globo, "bullying consiste em qualquer atividade que perturbe e incomode o outro, em demonstrações de desrespeito e falta de consideração. Esse termo é específico para ser aplicado para tudo o que acontece na escola".

Os abusos vão desde apelidos ofensivos, intimidação até a humilhação verbal e física. Provavelmente você que está lendo esse texto agora sabe do que estou falando: seja na ficção, através de filmes infantis da Sessão da Tarde, séries como Glee ou até mesmo ter visto isso pessoalmente. Seja como mero espectador, vítima ou provocador. E caso puxe um pouco pela memória sabe também que não se trata de um fenômeno novo.

Bullying não tinha um nome, sequer era visto com importância. Era tudo uma "brincadeira", ou uma preparação para a selva da vida adulta. Geralmente era tido como algo que "ia passar". O problema é que as vezes isso nunca passa. Não é raro que as vítimas carreguem marcas para toda a vida.

Wellington Menezes de Oliveira, o atirador, teria sido alvo constante de intimidação em seus tempos de estudante naquela escola. Colegas daquela época relataram apelidos e traçaram um retrato da personalidade do rapaz, em uma matéria que acabou levando o título de "O bobo da sala se tornou um criminoso". Aliás, era chamado não apenas de bobo. Pelo menos foi isso que disse um desses colegas, Bruno Linhares de Almeida:

"Eu me lembro muito, o Wellington era o 'bundão' da turma, era um cara totalmente tranquilo, um bobão. Implicavam bastante com ele, zuavam ele de tudo o que é nome", contou Bruno. Mas depois o jovem ressaltou: "Ele apesar de ser bundão, ele tinha um sorriso assustador".

Segundo Bruno, Wellington gostava muito de computador e não tinha muitos amigos. Mas tinha um aluno da turma que o atirador sempre andava junto e que, de acordo com Bruno, seria homossexual. "Eles viviam colados, só  sentavam juntos. Muitas vezes ele era chamado de 'veadinho'", contou.

Os detalhes vão sendo acrescentados de acordo com o veículo que faz a cobertura, mas talvez isso já seja indicativo suficiente. Muito já foi especulado sobre o caso: fanatismo religioso, influência de videogames e internet, distúrbios mentais... há um quebra-cabeças gigantesco e do qual talvez jamais se saiba como montá-lo. É difícil compreender a mente humana e como ela pode reagir diante do extremo, em atos de violência inexplicáveis, tendo inocentes como vítima. E por tudo que se pode notar em uma tentativa de montar o perfil de Wellington, o panorama não era nada bom.

Isso poderia ter sido evitado? Uma política mais efetiva sobre porte de armas de fogo, ou alguém que notasse sinais de que algo estava errado? Se algo houvesse sido diferente em seu passado o fim poderia ter sido outro? Não se sabe, nem vale mais cogitar os "se"s da questão pois o sangue já foi derramado. É importante buscar causas sim, mas para pensar em um futuro além das medidas práticas.

Discutir saúde mental pode parecer subjetivo, mas os resultados são palpáveis. Bem estar influi na vida em sociedade. Isso inclui respeito: algo que parece ser um artigo de luxo, cujo valor se mede pela raridade.

Gostaria de crer em uma esperança. As vezes é difícil ser otimista quando nos deparamos com esse tipo de atitude predatória sendo incentivada dentro de casa. Pregar o respeito é tarefa de cada um e não somente algo a ser feito em momentos de grande comoção popular.

Quero crer que a memória não morra com o passar do tempo e o assunto respeito não saia da "moda".

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* Perfil: Emanuelle Najjar - Jornalista, formada pela FATEA em 2008, pesquisadora da área de telenovelas. Editora do Limão em Limonada (limaoemlimonada.com.br)

Massacre em Realengo traz reflexão sobre saúde mental e bullyng

Posted: 09 Apr 2011 08:00 AM PDT

*Por Wander Veroni 

Foi notícia em todo o país e no mundo. Um ato insano cercado de mistério e injustiças. Nessa quinta-feira (07/04), doze crianças morreram baleadas numa escola municipal do Rio de Janeiro, vítimas de um atirador descontrolado. O caso teve uma repercussão gigantesca e provocou uma onda de comoção nas pessoas. Muito se foi discutido, mas até agora ninguém sabe o que motivou esse criminoso a matar essas crianças, em especial.

O debate em torno do caso nos traz algumas possibilidades de assuntos a serem pautados, como a questão da saúde mental e do bullyng. Infelizmente, as pessoas quando se deparam com o tema saúde mental logo pensam em doença, e não em saúde. Passa uma série de enfermidades, como demência, mania, psicose, depressão, ansiedade, enfim...o que é necessário pontuar que saúde não é sinônimo de doença. Saúde é bem estar e doença é outra coisa que não tem nada a ver com essa proposta. Mas uma coisa é certa: é preciso cuidar da saúde para se prevenir das doenças.

E quando falamos em saúde mental a ideia é focalizar uma mente livre e saudável capaz de responder aos estímulos do dia-dia, propondo ações que nos permite sentir bem no nosso ambiente e consigo mesmo. Pelo o que se viu nos noticiários, o atirador não estava nada bem. Vinha de uma onda de isolamento social e um passado de bullyng que deixaram cicatrizes expostas na alma dele. O fanatismo religioso exposto na carta de despedida já é uma prova deste descompasso.


Em contrapartida, o que será da saúde mental dessas crianças e funcionários da escola que passaram por uma experiência tão traumática? Espero que a secretaria de saúde do Rio fique atenta a essa abordagem como se mostrou atenta e presente no dia do ocorrido. Pelo que já li sobre o tema, acredito que o ideal é propor uma terapia aos alunos e um trabalho psicopedagógico para a promoção de um ambiente escolar de paz. Só quero ver...

Outro atenuante desse trágico caso de Realengo que merece ser discutido é a questão do bullyng e os efeitos que isso pode causar a curto e longo prazo na vida de uma pessoa. Há um pouco mais de 15 anos atrás não se falava em bullyng nas escolas. O caso era tratado como "crianças bagunceiras" que perseguem "crianças tímidas". O tímido era incentivado o tempo todo a reagir da mesma agressividade, enquanto o agressor nunca era punido. Todo mundo que era visto como "diferente" virava motivo de piada, recebia agressões e ganhava apelidos nada agradáveis. Os professores faziam vista grossa e os alunos que sofriam bullyng se escondiam detrás do medo. Hoje, alguns educadores estão mais atentos. Porém, é difícil educar quando boa parte dos jovens não tem sequer respeito por eles mesmos. Educar hoje é um trabalho de construção e perseverança diante de tantas adversidades.

Talvez, se o atirador tivesse recebido uma ajuda no momento certo, o caso poderia ter tomado outro rumo. Será? E a questão da maldade, do ato cruel, como é que fica? Seria a maldade uma patologia mental? Infelizmente, a mente humana nos prega peças. A maldade é assustadora de tal maneira que é impossível calcular o que se passa na cabeça de alguém que entra numa escola para fazer mal às crianças que não tinham nada a ver com o problema dele. Aliás, isso me faz pensar o que esse atirador passou de bullyng nessa escola deva ter sido algo muito forte a ponto dele planejar uma volta tão cruel. Porque matar apenas as meninas? A rejeição foi tão grande assim a ponto de provocar esse surto? Será que a humanidade tem jeito? Sim, tem. Tem que ter! Só de já debatermos o assunto e colocar a cabeça para pensar sobre isso já é algo transformador e que ajuda a colocar uma gota de esperança. Afinal, devemos ser a mudança que queremos ver.


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*Autor: Wander Veroni, 26 anos, é jornalista pós-graduado em Rádio e TV, ambas formações pelo Uni-BH. É autor do blog Café com Notícias (http://cafecomnoticias.blogspot.com). Twitter: @wanderveroni / @cafecnoticias.

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