domingo, 24 de abril de 2011

cenaaberta.com

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Morde e Assopra e as novelas que viram colchas de retalhos

Posted: 23 Apr 2011 04:00 PM PDT

Desde que estreou há um mês apenas um detalhe chamou a atenção da imprensa televisiva: a atuação de Cássia Kiss. Tirando isso aparentemente nada se salva na trama de Walcyr Carrasco. Eu discordo, vocês sabem disso.

Mas discordo não no sentido de dizer que é a oitava maravilha do mundo, não é isso. Walcyr há anos escreve sempre a mesma coisa, assim como os demais autores das antigas na poderosa. Quer dizer, nos outros canais idem.

Tirando A Favorita e agora Cordel Encantado, a criatividade bateu longe da porta dos autores. Até tentaram com Tempos Modernos, Bang Bang e Os Mutantes, mas não rolou e isso não ocorreu por aquele motivo que já citei aqui: Vamp era bizarra mas os atores convenciam.

Só que tá complicado o negócio, não?

Crianças não podem fazer absolutamente nada; "violência" é proibida quando os "telejornais" passam o dia fazendo sensacionalismo; se o público não se identifica com isso ou aquilo tem que mudar tudo e...

Acho que é esse último fato aquele que mais limita um autor, aquele que é autor de verdade.

Você tem uma história na cabeça, sabe o que vai contar e de repente é obrigado a praticamente começar uma nova história.

Já pensou se de repente o telespectador tivesse rejeitado aquele lance no início de A Favorita, quando ninguém sabia quem era a vilã? Ou se tivessem preferido  Flora como boazinha e João Emanuel Carneiro tivesse que mudar todo o andamento da produção?

Pensa que é fácil? Obra aberta não é brinquedo não, ainda mais quando os capítulos dos folhetins são revelados a todo momento na internet. Ou seja, suspense é uma coisa que não existe mais.

E aí fica complicado porque o que vale mais, uma boa história ou uma outra maluca tipo uma colcha de retalhos mas que dá audiência?

Fica a questão,

Telenovela: círculo vicioso impede autores de inovar

Posted: 23 Apr 2011 12:00 PM PDT

A vida dos autores de novelas nunca pareceu tão difícil quanto nos últimos tempos. Não que ela tenha sido fácil algum dia, mas nos últimos anos ela bem que poderia ter sido inclusa em um ranking de profissões mais estressantes.

Creio que qualquer um minimamente interessado no tema sabe que uma das principais características da telenovela é justamente o fato de ser uma obra aberta, ou seja: não há acontecimento ou história que não possa ser mudado, nem personagens com destinos pré-estabelecidos. Tudo pode mudar num piscar de olhos conforme a vontade do público.

Não, não estamos falando do finado "Você Decide", mas sim de algo pouco mais complexo. Trata-se de mais do que decidir o final. A grosso modo, significa que o autor da trama apresenta os seus personagens, faz uma proposta de história e depois disso ele não será mais que alguém agindo por pauta. Para agradar seu público e alavancar os números de audiência (ou salvá-los) talvez ceda a pressões inúmeras e escreve uma nova novela usando minimamente a base de sua própria história.

Isso já aconteceu com muitas novelas que não caíram no gosto do telespectador. Um caso emblemático foi "Anastácia, a mulher sem destino" escrita por Emiliano Queiroz e exibida pela Globo em 1967. A trama passava por um grande inchaço de personagens e não tinha repercussão junto a audiência, e quando a autora Janete Clair foi chamada para assumir a história e dar um jeito na situação, ela escreveu um terremoto que matou quase todos os personagens, uma passagem de tempo de vinte anos e começou praticamente do zero. Em Torre de Babel, de Sílvio de Abreu e transmitida em 1998, a explosão do shopping Tropical Tower – um dos principais cenários da história – serviu também para eliminar personagens rejeitados pelo público. Em Bang Bang (2009), escrita por Mário Prata, os capítulos acabaram apelando para o humor pastelão e a duração dos capítulos chegou a ser encurtada. Já em Tempos Modernos (2010), a tecnologia que era um dos motes da novela de Bosco Brasil foi deixada de lado em prol de um romance choroso.

Como deu para perceber, os exemplos não faltam. E mais recentemente pode ser que algo do gênero volte a acontecer com "Morde e Assopra" de Walcyr Carrasco. Alguns colunistas de televisão já afirmaram que tais mudanças estão em curso, como por exemplo a volta de Naomi (Flávia Alessandra) como humana e o fim de sua personagem como robô, além do aumento das cenas de comédia e de romance. Mudanças que foram julgadas como sendo tão grandes que chamaram de uma "nova novela".

O que dizer? Bom, de minha parte digo que lamento por ver histórias interessantes se perderem pelo desespero. Claro que gosto é gosto, que audiência e repercussão são importantes, mas a cobrança por resultados rápidos tem sido devastadora em casos em que um pouco de paciência seria adequada. Sem contar ainda as condições em que esse gosto atribuído ao público em geral é levado a sério, afinal quando falamos em audiência os números divulgados sempre dizem respeito a Grande São Paulo. Até que ponto a rejeição é verdadeira?

Além disso, o que está faltando? O público está cada vez mais exigente, cobrando inovações, ao mesmo tempo rejeitando a maior parte delas de forma sistemática e alegando que as tramas antigas que eram boas. Escritores tem medo de inovar, e quando o tentam costumam ser barrados pelas emissoras. Um tremendo circulo vicioso de contradições e trapalhadas digno de pastelão.

Talvez escrever novelas seja a nova "missão impossível". Alguém duvida disso?

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* Perfil: Emanuelle Najjar - Jornalista, formada pela FATEA em 2008, pesquisadora da área de telenovelas. Editora do Limão em Limonada (limaoemlimonada.com.br)

O poder do controle remoto sobre as telenovelas

Posted: 23 Apr 2011 08:00 AM PDT


*Por Wander Veroni 

O que determina o sucesso de uma telenovela? Bom texto do roteiro, direção caprichada, elenco de primeira ou o conjunto da obra? São vários fatores, entre eles um que é sempre o mais importante de todos: o poder de decisão do telespectador. Afinal, é ele que define quem vai ser o preferido na escolha do controle remoto. Se nos programas e telejornais, a preferência do público determina (ou não) o prolongamento de uma pauta, imagina nas telenovelas?

A escolha do público pode determinar se uma telenovela vai durar ou não o tempo previsto, se o herói vai ficar com a mocinha ou aceitar a redenção da vilã...enfim, o público faz pressão e tem um poder de decisão tão grande que, na maior parte das vezes, se deixa seduzir pela menos pior. Se o telespectador soubesse quanto vale 30 segundos da atenção dele no horário nobre pensaria duas vezes antes de decidir o que quer ver e como quer ver. Pesquise o preço e depois e reflita. É um exercício que vale a pena!

Recentemente, Morde & Assopra foi colocada na berlinda pelo telespectador. Boa parte do público não comprou o título estranho da nova novela das sete da Globo, muito menos a mistura de dinossauros e robôs no folhetim. Com isso, a emissora carioca já está encomendando mudanças baseado numa pesquisa para ver se a audiência reage e fique satisfeita com os rumos da história. Entre alguns críticos de TV, Morde & Assopra virou o novo "Judas". Todo dia aparece uma nota falando dos problemas da novela. Uma das últimas foi o fato do próprio autor Walcyr Carrasco ter ido parar nas ilhas de edição da novela por achar que aquilo que ele escrevia não estava indo ao ar da forma em que ele havia proposto, causando um mal no estar nos bastidores entre ele e o diretor Rogério Gomes.

Particularmente, não assisto Morde & Assopra. Não porque a novela seja mal escrita, mas sim porque a trama não me interessou. No horário, tenho visto a adaptação de Rebeldes, feita pela Record, e tenho gostado muitos dos rumos que a autora Margareth Boury deu a trama que ainda é recente na cabeça do público que conferiu a versão mexicana pelo SBT, há menos de cinco anos atrás. É praticamente uma outra novela! Ao mesmo tempo, Rebeldes tem reagido bem na audiência e alcançado números bastante expressivos em Fortaleza, Recife, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Fato bastante comemorado pela emissora da Barra Funda que mantém a esperança de que em São Paulo Rebeldes saia da média dos 10 pontos – o que não demora muito, pois os seis protagonistas funcionam muito bem juntos, além de terem carisma e talento.

Mas, voltando a falar de Morde & Assopra, me surpreendeu o fato de que os mesmos críticos de TV esquecerem de uma outra novela – também da Globo, que está sofrendo para emplacar e tem a antipatia do público pelo excesso de personagens em participação especial: a novela das nove, Insensato Coração. A trama de Gilberto Braga e Ricardo Linhares está há muito mais meses no ar do que Morde & Assopra e ainda não mostrou a que veio. Começou com embalo, mas depois estacionou. Fora a falta de química entre o casal protagonista que é desanimadora. Atualmente, o único oásis entre as novelas globais atende pelo nome de Cordel Encantado, na faixa das seis, que tem crescido em audiência a cada dia e surpreendido o telespectador com uma trama leve, cheia de magia e referências aos contos de fadas, cangaceiros e reis medievais.

Então, a pergunta que não quer calar: qual será o segredo de se fazer uma boa novela? Será que o público está mais exigente ou os roteiristas mais preguiçosos com medo de inovar? As perguntas são muitas e as respostas ainda precisam sem elaboradas. Apesar da TV aberta brasileira ser nacional, ainda nos deparamos com a situação de que apenas o gosto dos telespectadores de São Paulo ou do Rio de Janeiro são levados em conta. Não importa se uma novela é sucesso em Fortaleza, Belo Horizonte, Vitória, Goiânia, Manaus, Salvador, Curitiba ou Porto Alegre, tanto faz. Se o telespectador de São Paulo não gostar o restante do público paga o preço de uma TV supostamente nacional.

Não adianta falar que é por conta do mercado publicitário estar nessas duas praças, pois se os anúncios são nacionais, qual o sentido de querer agradar apenas uma região? O Brasil não é só o Sudeste. O restante do país também tem poder de compra. Será que alguém já parou para pensar nisso? Claro, o debate é amplo, mas não deve ser encarado de forma inflamada. Sou entusiasta, mas não sou louco. A TV vai continuar assim até as pessoas que estão no jogo quiserem que seja assim. É uma realidade que precisa ser revista se caso algum dia quisermos ter uma TV realmente nacional. Afinal, o poder está no controle remoto. Valorize-se!

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*Autor: Wander Veroni, 26 anos, é jornalista pós-graduado em Rádio e TV, ambas formações pelo Uni-BH. É autor do blog Café com Notícias (http://cafecomnoticias.blogspot.com). Twitter: @wanderveroni / @cafecnoticias.

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