domingo, 8 de maio de 2011

cenaaberta.com

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Classificação indicativa: tá pensando que televisão é bagunça?

Posted: 07 May 2011 04:45 PM PDT

Há  algumas décadas, a TV brasileira esteve em um patamar onde poderíamos dizer que valia de tudo para chamar a atenção do telespectador. Para quem não viveu essa época talvez não entenda o panorama, então para compreender melhor do que se trata imagine o grotesco entre o grotesco e terá mais ou menos um resultado apropriado. A visão não foi agradável, não é mesmo?

Para evitar que esse tipo de coisa voltasse a acontecer, surgiu a classificação indicativa. Uma tentativa de colocar ordem na bagunça que gerou grande controvérsia entre diversos setores da sociedade: acusações de censura de um lado, a exigência de mais seriedade do outro. Polêmicas a parte ela está aí, firme e forte e suscitando discussões. Uma delas ganhou um novo capítulo recentemente quando o tema esteve em debate através da internet. No período entre 18 de novembro de 2010 e 27 de abril de 2011, o tema foi posto em discussão pública. Um debate que envolvia as normas e os critérios de forma bem explicada para que todos os interessados pudessem participar e do qual saíram algumas propostas como resultado.

Cinco meses e 56 mil acessos depois, e o Ministério da Justiça e o Ministério público reuniram algumas propostas para que no futuro seja criada uma única e atualizada portaria a respeito do assunto já que hoje há cinco. Emissoras de TV abertas, pagas e ONGs participaram da discussão e algumas dessas propostas foram divulgadas pela Folha de São Paulo no dia 05 de maio na coluna de Keila Gimenez e envolvem especialmente mudanças de horários e novos enquadramentos. Alguns deles vão dar o que falar.

A operadora Sky defendeu a remoção da linguagem de libras na apresentação da classificação indicativa, o que é de uma sacanagem sem igual. Estamos falando de um retrocesso porque a presença da linguagem é uma forma de inclusão. Uma iniciativa que deveria estar presente em todas as emissoras, especialmente as abertas.

O Instituto Alana e diversas ONGs sugeriram a classificação das propagandas e também maior controle quanto a grade de programas das TVs pagas. O SBT pediu a antecipação de horários: liberação de conteúdos impróprios para menores de 12 anos a partir das 14h– coisa que hoje só é permitida a partir das 20h – e os conteúdos impróprios para menores de 14 a partir das 19h– sendo que atualmente vai ao ar após as 21h. Há de se convir que é um horário bastante adequado, pois esse público também não pode ficar alienado diante de certos temas. Porém a nata fica por conta de uma outra proposta: classificação indicativa de telejornais.

Isso mesmo. Para quem talvez não tenha notado elas não fazem parte do rol de programas que devem seguir tais regras, e se isso for levado adiante vai ter emissoras por aí com sérios problemas. Afinal tem telejornais que promovem a exposição de tudo que é crime e de todas as formas de tragédia humana como se não houvesse nada mais acontecendo. E sim, estou falando da Record. Quem já teve a oportunidade de assistir seus telejornais sabe muito bem qual seria a extensão das mudanças: uma linha editorial inteira para ser mais exata.

Talvez os esforços referentes à adequação para as novas regras possa mostrar que é sim possível lucrar e ter qualidade ao invés de uma corrida desenfreada e sem o mínimo de regras. Uma missão difícil para todos os lados mas cujo final pode ser muito gratificante especialmente para quem está aqui do outro lado da telinha. Quem sabe finalmente o telespectador não possa se sair bem nessa?

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* Perfil: Emanuelle Najjar - Jornalista, formada pela FATEA em 2008, pesquisadora da área de telenovelas. Editora do Limão em Limonada (limaoemlimonada.com.br)

Classificação Indicativa: Uma forma de censura, mas que tem que valer para todos

Posted: 07 May 2011 12:00 PM PDT

Há tempos destacamos neste espaço a limitação que a classificação indicativa impõe nas telenovelas: não pode violência, não pode sexo, drogas e também as crianças não podem quase nada enquanto atores.

E as novelas, bem, se forem exibidas no período da tarde, precisam ser retalhadas, mesmo que se perca o contexto.

Tá, tudo bem, se não pode, fazer o que? Que os autores façam séries e usufruam da faixa das 23h para o que não é permitido antes.

A questão é que enquanto na dramaturgia tudo é proibido, pro jornalismo tudo pode com a desculpa de que é direito do público ter informação a qualquer hora do dia.

Mesmo que seja uma tragédia de grandes proporções, que pessoas ensanguentadas ou destroçadas apareçam no video ou que se fale de drogas, abuso sexual ou qualquer outra coisa.

Por ser notícia, pode.

Só que bem sabemos que alguns canais usam essa desculpinha para alongar o assunto e passam horas e horas veiculando tragédias enquanto for conveniente, ou seja, enquanto estiver dando audiência que é o que de fato importa.

Mas o que é difícil entender é: como a vida real pode chocar menos que uma telenovela?

Por isso chamou atenção matéria da Folha de São Paulo de ontem sobre a discussão envolvendo uma classificação indicativa válida também para os telejornais.

É uma forma de censura? Sim, é, mas se vale pra um tem que valer para todos.

Acho excelente, de certa forma, afinal, sem poder explorar o jeitinho fácil de se cativar o telespectador, os executivos de TV terão que usar bem mais a criatividade para cativar o público.

E eu tô numa torcida ferrenha para que isso aconteça. E depois, que vença o melhor!

Classificação Indicativa tenta inibir o vale tudo pela audiência

Posted: 07 May 2011 08:15 AM PDT


*Por Wander Veroni 

Numa época não muito remota na TV aberta – há quem diga que isso ocorre ainda hoje, as emissoras de TV estavam travando uma espécie de vale tudo para ver quem consegue chamar mais atenção do telespectador pelo grotesco. A preocupação com qualidade e bom acabamento editorial do programas deixaram de ser uma meta para dar lugar ao que o público correspondia em números através dos relatórios de audiência. Telejornais populares investindo em sensacionalismo barato e as telenovelas explorando sexo e violência, são apenas os exemplos mais gritantes.

Numa tentativa de colocar ordem nas coisas, surge a Classificação Indicativa. Entre os roteiristas e produtores o novo mecanismo foi tratado como quase um ato de censura. Para o público e para a Justiça, uma esperança para que as emissoras de TV aberta – que são um concessão pública, principalmente, comecem a tratar o telespectador com mais respeito, e menos oba-oba.

Nessa sexta-feira (05/05), a Folha de S. Paulo informou, na Coluna Outro Canal, que após cinco meses de debate público via internet, o Ministério da Justiça e Ministério Público reuniram algumas propostas para a nova Classificação Indicativa na TV e obras áudios-visuais.  Segundo a coluna assinada por Keila Jimenez, o debate envolveu membros da TV aberta, TV Paga, ONGs e público em geral, contando com mais de 56 mil acessos na web. Entre as propostas estão alteração nas faixas de classificação etária por horário, remoção da linguagem de libras (de surdos e mudos) e, a mais impressionante, para não dizer urgente, a classificação de telejornais e programas jornalísticos.

Como cidadão, telespectador e jornalista, sou contra a remoção da linguagem de libras que anuncia a classificação etária das atrações. Acredito que a iniciativa é uma forma de incluir, socialmente, as pessoas com necessidades especiais. Além disso, sou a favor da extensão do recurso de "closed caption" (legendas) para todos os programas de TV para que, dessa forma, haja a inclusão de todos os públicos. Quanto a mudança etária em relação aos horários, como no caso do SBT que pediu a alteração da classificação para menores de 12 anos passar para as 14h e a de 14 anos para as 21h parece adequada e atenta a algo que já acontece, pois o público jovem precisa estar ciente de alguns temas sem a premissa do "politicamente correto" em tudo. Não devemos ser hipócritas!

No entanto, a sugestão que mais gostei foi o da classificação dos noticiários. Se ela for realmente colocada em prática, algumas emissoras vão ter que repensar toda a linha editorial, como é o caso da Record, principalmente quando falamos em telejornais locais. Uma coisa é ser popular, outra completamente diferente é acreditar que crimes, tragédias, miséria humana e tráfico de drogas são as únicas notícias relevantes da cidade.

Ah, mais isso é  que dá audiência? Será? Quão relevante é mostrar todas as apreensões de drogas feitas numa madrugada? Não, não estou falando que isso não se deve ser noticiado. Não é isso. Só estou chamando atenção para as outras notícias locais, de grande importância, presentes em outras editorias, como cultura, política, saúde, economia, etc, que deveriam ser também prestigiadas. Afinal, não é só de tragédias e crimes que vivem uma cidade. Mas o pior não é isso: seja de manhã, na hora do almoço ou à noite, o telespectador fica por dentro do mundo policial e, consequentemente, o público das mais diversas faixa etária. Algo a se pensar...aonde foi parar a TV de Primeira?

Para colocar ainda mais lenha na fogueira sobre a classificação Indicativa e, ao mesmo tempo, mostrar para o público o quanto a TV – e qualquer outro produto cultural, é pensado de forma puramente comercial por várias cabeças, que nem sempre são convergentes na mesma proposta, o articulista Carlos Heitor Cony, também na edição de sexta-feira (05/05) da Folha de S. Paulo, trouxe um texto mostrando como são pensados os roteiros.

No artigo, ele conta uma passagem mostrando como são feitos os filmes dos estúdios norte-americanos. Tudo começa com a idéia de um produtor executivo, o apoio de um bom patrocinador e estrelas em ascensão que garantem amplo retorno midiático. O roteiro, que peça fundamental para o sucesso, muitas vezes, é a última coisa a ser executada e, geralmente, feita por mais de uma cabeça pensante. "Pode parecer piada, mas as coisas funcionam assim mesmo. Um filme, uma produção teatral ou uma telenovela é um empreendimento econômico-cultural que exige um colegiado para tomar as decisões finais", comenta Cony.

Ao ler o artigo de Cony, rapidamente, fiz associação à notícia da Classificação Indicativa na TV. A impressão que tenho é a seguinte: vamos colocar algo no ar que tenha boa audiência e, dessa forma, valorize o horário, para que possamos cobrar um valor X pelo anúncio, independente se esse programa agrega ou promova baixaria. Graças a Deus, nem todas as emissoras pensam assim em toda grade, mas possuem seus "ataques" de forma mais sutil do que outras. Não se engane: os veículos de comunicação são também empresas e, portanto, precisam gerar lucro, e não só prestação de serviço e boa reputação. Está tudo no mesmo balaio! No ímpeto, no custe o que custar para ter bons números de audiência, a Classificação Indicativa pode ser uma esperança para que o público, produtores de TV e roteiristas não fiquem refém deste "vale tudo". Ainda existe uma esperança no fim do túnel. Será?

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*Autor: Wander Veroni, 26 anos, é jornalista pós-graduado em Rádio e TV, ambas formações pelo Uni-BH. É autor do blog Café com Notícias (http://cafecomnoticias.blogspot.com). Twitter: @wanderveroni / @cafecnoticias.

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